Tudo passa.

sábado, 24 de agosto de 2013

A diferença entre o veneno e o remédio é a dose



É apavorante sair de casa! Pelo menos para mim, um incurável misantropo. Mas meu cabelo insistia em crescer e tive de ir ao barbeiro. Sujeito simpático. Enquanto tesourava minhas melenas grisalhas, indiferente à minha cara de broa azeda, puxou conversa sobre amenidades, como a saúde, por exemplo.Tocado pela simpatia do veterano fígaro, aceitei a conversa e até comentei algumas idéias sobre os remédios e a qualidade de vida. Aí, sua sabedoria de anos de tesoura, me surpreendeu.

-" Seu Marat, o segredo de uma vida bem vivida está na moderação. O mal está nos excessos."
Com o vento do secador afastou algumas mechas cinzentas do tecido que me cobria e prosseguiu:
-" Pense nas coisas que ambicionamos a vida toda: Dinheiro, mulheres, sucesso, amizades, bens, boa mesa, saúde, coisas boas, não é? " Concordei com um grunhido, evitando mover a cabeça com receio que minha orelha  fosse junto com o cabelo. E ele continuou:

-" Agora, imagine essas coisas boas em excesso: Dinheiro é útil mas em excesso cria problemas. Põe em risco sua segurança, atrai as piores pessoas e magoa as boas, acaba com a sua tranquilidade e nunca é suficiente para as coisas que você pretendia fazer. Você deixa de confiar nas pessoas mais queridas. Deve ser horrível ser milionário!" Apesar do meu sorriso cínico, notei um fundo de razão . Mas o mestre da tesoura estava inspirado:
-" Mulheres. Uma, enternece sua vida; duas, uma quer mais de você do que a outra teve, a terceira completa o desastre e a ex, então?..." Quase comi cabelo mas acabei rindo. E ele, implacável: 
-"Sucesso; Não sabemos lidar com o sucesso e menos ainda com o poder. Até pela nossa cultura, somos na maioria facilmente corruptíveis. Se eu me tornar famoso, esquecerei meus amigos e se for eleito para uma função pública, mesmo sendo o homem íntegro que sou, me tornarei corrupto. É a nossa natureza."

Nessas horas me pergunto quantos sábios e filósofos anônimos se escondem em funções humildes, invisíveis no nosso dia a dia. O meu filósofo então mexeu um creme com um pincel e começou a me aplicar nos limites entre o cabelo e o pescoço. Olhou para o alto como em busca de inspiração e atacou:

-" Bens; Ter sua casinha, seu carrinho decente e companheiro, um trabalho que te supra o necessário e um pouquinho de supérfluo, afinal, um pouquinho de supérfluo é necessário, isso é bom. Agora, quando você acha que seu propósito de vida é amealhar bens, começa a asneira. Várias propriedades, um carro para cada pessoa da família, um terreno não sei aonde... quando percebe, você se tornou propriedade das suas propriedades! Sem notar, para amealhar esses bens comprometeu sua integridade, um bem muito mais valioso." O fígaro era eloquente. Palavras tão cortantes como a navalha com que ele entusiasticamente gesticulava:

-" Boa mesa; Quem já passou privações sabe melhor apreciar aquele cheirinho do feijão fresquinho colorindo o arroz quentinho, com uma misturinha e um café... Eitha coisa boa! Agora, come demais, prá ver. Na primeira vez, um sal de fruta resolve. Da segunda em diante, o abdome distende, dá prisão de ventre ou vira flor, plantado no vaso. A pressão sobe, não sei o quê desce e por aí vai... Fome? Apetite? Não. Apenas a tal de ansiedade trazendo a obesidade, o mal de nossos dias! "

O doutor da tesoura afrouxou o tecido no meu pescoço e removeu fios perdidos com uma escova. Tomou um espelho na parede e mostrou-me o aspecto civilizado que dera ao meu cabelo, comentando:

-" Saúde; Esse dom precioso. É boa  mas quando a temos em excesso, na juventude por exemplo, abusamos. E como tudo, só valorizamos quando perdemos. Álcool: ajuda a relaxar e estimula o apetite mas em excesso nos priva da saúde, da consciência e corrói nosso caráter. Resumindo:  A diferença entre o veneno e o remédio é a dose, doutor. "

Divertido com a inesperada sabedoria, puxei minha humilde carteira e perguntei quanto era.
- " Vinte Reais." Respondeu. 
Paguei e saí dali, com o cabelo cortado e moderadamente mais sábio.
Sem excessos.

Marat
 
 


sexta-feira, 26 de julho de 2013

A Bela no meu portão




Demoro para acordar. Levanto resmungando, me coçando, reclamando do chinelo que sumiu, até que encaro o espelho... Aí, não sei se rio ou choro. Mas, estou espremendo a pasta na escova ( de dentes, espero) quando toca a campainha. Que susto! Dez horas da madrugada e já tem alguém para alimentar minha aversão à espécie humana! Espero que não seja o correio; Geralmente, a simpática carteirinha só me traz contas ou multas de trânsito, das quais minha coleção já está completa. De novo a campainha! Eh, povo impaciente, -" Já vou, pô ! " E lá vou eu, de roupão de banho, chinelos, cabelo em desalinho, etc, abrir a porta... Ninguém no portão!

Por portão, entenda-se uma grade medieval que me dá aquela sensação claustrofóbica de prisão. De fato, é uma situação no mínimo, irônica: O cidadão atrás das grades e a malandragem à solta.
Mas no portão deste Ranzinza só tinha um folheto de ofertas de um supermercado.
Já ia voltar para o meu refúgio quando senti na mente enferma uma forte sensação de " Déjà vu " :
Lembrei-me Dela!

Foi há bastante tempo... Para que contabilizar o tempo, esse tirano? Ele passa e brinca sadicamente conosco, como um gato brincando com um pardal caído- Até finalmente matá-lo. Mas nos ensina também... Onde é que eu estava mesmo?  Ah, sim... Parcialmente acordado, fui atender a campainha.
Abri a porta e através da grade prisional do meu portão, eu a vi !...!  Lerdo como sempre, demorei um pouco para por em foco a imagem e o raciocínio. Duas moças no meu portão mas mal notei a outra: Ela a ofuscava completamente.  Realmente linda! Autêntico tributo a Afrodite. E eu, de roupão, descabelado, provavelmente com o ar mais idiota do mundo e meu hálito invariavelmente fétido, autêntico tributo a Baco!

Trabalho com arte e estou habituado à beleza. Cerco-me dela ou não criaria nada, só me restaria meu inseparável sarcasmo. Mas... mas ela me pegou de surpresa! ( Normalmente odeio surpresas!)
Um solzinho tímido refletia o tom cobre no castanho dos seus cabelos quase lisos, emoldurando um rosto incrível.  Na testa aristocrática dançavam os fios rebeldes de uma leve franja . As sobrancelhas discretamente arqueadas tinham a espessura ideal para conduzir o incauto observador para aqueles olhos.
Ah, os olhos ! Não só o tom castanho mel tomava matizes mais claros da luz do Sol como o sorriso implícito no olhar cravava uma estonteante sensação de familiaridade. O nariz, delicado e altivo coroava uma boca, de uma sensualidade que prefiro não comentar, por simples pudor.

Cúmplice dessa beleza toda, uma fria brisa brincava com seus cabelos e suas roupas naquele jogo de " mostro ou não mostro?". Ela vestia com naturalidade uma blusa simples, abotoada, de mangas arregaçadas ao antebraço, num tecido leve, sugerindo um busto escultural com uma saia evasée, delineando quadris de enlouquecer mesmo parados. Imagino-os em movimento. As pernas ( Ah, as pernas, a mais clássica observação masculina) bem torneadas, terminavam em pés delicados flutuando em discretos escarpins.
Uma bolsa à tiracolo ( Mulheres podem se separar até do marido mas jamais da bolsa.) combinava com os acessórios...

Maximilien, meu companheiro de noitadas em minha encarnação anterior, costumava comentar que: "- As mulheres não entendem nada de homens."  Ela porém, intuitivamente entendia.

Posso notar o despeito de nossas moças que, em sua maioria se vestem com mau gosto ou de modo vulgar. É verdade que os garotos também não são lá grande coisa. Com raras exceções,  idiotizados pela mídia e pela educação ultrapassada, não sabem apreciar uma tela, uma música, uma poesia e muito menos uma mulher.
Esquecemos de lhes ensinar que a mulher ( em qualquer idade) não é um objeto mas a nossa metade bonita.
Nascemos delas, vivemos por elas e quando morrermos, que seja por elas, já dizia meu bom guru.

Vocês, pais e mães que procriaram tão entusiasticamente, poderiam ensinar suas filhas a distinguir entre elegância e vulgaridade ao invés de tentar inutilmente reprimi-las. Ou imbecilizá-las diante da novela.
Vejo-as exibindo suas adiposidades espremidas para fora dos seus grosseiros Jeans, como pasta para fora do tubo. Ou em roupinhas sumárias que exibem de uma vez o que seria mais eficaz mostrar aos poucos. Ou só insinuar.

Ah, mas Ela não fazia parte desse grupo desinformado.  No curto trajeto entre minha porta e o portão eu já estava quase curado da minha misantropia. Quase resgatando minha esperança no fracassado gênero humano, diante daquele modelo sublime. Talvez pela minha expressão idiota ou por simples caridade, Ela sorriu. Porque ela foi fazer isso ? Minha garagem, a rua medíocre, o céu e até minha alma iluminaram-se com aquele sorriso. Mas a magia não ia ficar por aí...

Os lábios! Aqueles lábios inspiradores moveram-se... Ela falou! Que melodia! Johann Sebastian, morda-se no túmulo; Você não sabe o que é música... A voz dela era a Música!  As mulheres têm essa interessante modulação da voz: Quando querem, podem emitir sons extremamente envolventes ou incrivelmente irritantes!
Embevecido como estava, não consegui distinguir as palavras mas para meu deleite a delicada mãozinha deslizou como um cisne através da feia grade, entregando-me um papel.

Tentei ler. A falta dos óculos ou o meu estado de transe me turvaram a visão mas pude aos poucos, e com crescente decepção, identificar a natureza do couché bem impresso e ricamente ilustrado.
Senti uma vertigem, o céu escureceu, amparei-me no meu velho carro para não cair. Já dera vexame demais. As pessoas não nos decepcionam; Nós é que as superestimamos, esquecendo sua falha natureza humana.
Mesmo misantropo, ainda sou educado: Agradeci e entrei trôpego, com o coração falhando como um carburador sujo.
Ela, a musa que iluminara aquele momento era uma Testemunha de Jeová!

Marat




segunda-feira, 8 de julho de 2013

Titanic



Sou horrível quando acordo. Pioro ao longo do dia. E, atendendo à minha doentia necessidade de aborrecer alguém, olho em volta e vejo minha primeira vítima: Bonita, inteligente, vinte aninhos, artista e... minha filha!
Como um caçador visando a presa, aponto e disparo: - " Filha, quem são os ídolos da sua geração ? "
Ela interrompe seu " affair" com o computador e reflete. E reflete... E reflete ... -" Ah, pai ... " ( Num tom de não enche o saco!)  E volta sua atenção para a tela. 

Ela, como todos nós sabe mas prefere não pensar nisso: Surgem cada vez menos pessoas históricas na humanidade. Não nasce mais um Pitágoras, um Michelangelo, um Nostradamus, uma Mary Shelley, um Beethoven, uma Marie Curie, um Gandhi, uma Cecília Meireles, um John W. Lennon, ninguém. ( Deixem-me tomar fôlego ...)
Lembro-me do Timão dizendo ao Pumba: -" Não pense ou vai lhe doer a cabeça !
Para onde foram nossos heróis? Porquê não nascem mais pessoas extemporâneas como essas ?

Um amigo me disse que a humanidade cresce em número mas a quantidade de inteligência é uma constante, logo, cada indivíduo recebe uma quantidade cada vez menor. Assustador, mas vero.
Num momento em que perdemos o líder Nelson Mandela, noto preocupado que grandes nomes estão sendo retirados da humanidade. 
É como se algo ou alguém, percebendo que o navio está afundando, tentasse salvar só os melhores.
Seria o nosso planeta esse navio?  Nada de pânico! O Dalai Lama ainda está a bordo!
Sim, prezados passageiros do Titanic, devo ser paranóico, entre outras coisas... Noé também era!

Mas, o que podemos fazer a respeito? Ignorarmos e voltarmos ao nosso futebol, à nossa novela, aos escândalos dos nossos poderosos, ao supermercado? Ou aproveitarmos o que resta do navio, enquanto o mar escuro e gelado nos envolve? Foi para isso que os arquitetos do universo nos deixaram essa parca ração de inteligência ?
Devemos nos arrepender de nossos pecados? ( Que horror! ) Confraternizarmos, são paulinos e corintianos,  gays e evangélicos ?
Que tal mudarmos o rumo do navio ?

Apesar de Misantropo, chato, etc, pasmem, tenho amigos fantásticos. Um deles, citou:  "Só os gênios concebem o óbvio!"  Adorei !  A essa distância do iceberg realmente seria muito pior tentarmos desviar o navio. Repetiríamos a burrada que fizemos no Titanic. Como na época, o jeito agora é partir para cima do iceberg! Segurem-se, a porrada vai ser feia mas flutuaremos. ( Engenharia básica, vol. I )

" E como faremos isso, Tio ?"  Ouçam minha gargalhada sarcástica! Eh, humanidade! Sempre a espera de uma resposta pronta. Esqueceram? Como misantropo, quero mais que a humanidade se... Pensando bem, vou quebrar seu galho:  Segurem firme o leme na direção do iceberg. Prá cima dele, moçada ! Se segurem!
Não vamos impedir que o próximo espirro do Sol atravesse o campo magnético da Terra. Nem vamos mudar o itinerário do próximo asteróide. Nem impediremos que o derretimento da calota polar acabe com nossas cidades praianas ou que a Lua continue se afastando da Terra. Coragem, vamos nessa :

Dentro de cada um temos as respostas para as mais incômodas questões. Nossa dificuldade em acessá-las, decorre principalmente da interferência que desde a infância, recebemos da mídia alienante, das doutrinas, dos valores retrógrados que nossos pais nos incutiram, com a mais inocente boa vontade, dos nossos preconceitos, medos, egoísmo e arrogância. E claro, de uma sociedade temerosa de mudanças.
Um velho sábio foi condenado a tomar cicuta, um jovem rabi hebreu foi crucificado e muitos pereceram por revelar essa ideia, essa fórmula mágica que sempre irritou os poderosos. Ainda estão no leme? Firme, agora! Lá vem:

EMPATIA 

Do grego: empatheia, que significa entrar no sentimento. No Aurélio, aparece como: " Sentir o que sentiria caso estivesse na situação e circunstâncias experimentadas por outra pessoa."
Simplificando, antas:  Por-se no lugar dos outros.

Complicou agora, né? Eu disse que a porrada ia ser feia !
Imagine agora, todas as pessoas que te ofenderam, te passaram a perna, e tente ver os fatos da ótica delas. Tente se por no lugar delas.  O Iceberg à frente na verdade é um espelho. É o reflexo das ocasiões em que amordaçamos nossa consciência por egoísmo, descuido ou simples estupidez, tão comuns à espécie humana e agredimos alguém. No trânsito, no trabalho, na família, nas relações em geral. E ao agredi-lo ( ou pior, ignorá-lo) agredimos por tabela o próprio universo. Tá legal, dou um tempinho para vocês digerirem. Vou fazer um xixi e já volto.

Não é fácil!  Não, não me refiro ao xixi mas a aceitar o óbvio. 
Não posso provar cientificamente mas sei que estamos conectados entre nós e com todo o universo ( sem Jung, por favor.) desde uma célula até uma galáxia. E discordando das doutrinas, não são as nossas ações que determinam essa relação mas nossas intenções. Agora melou, né? Pior: A soma destas intenções aciona uma força ou Ente que pilota o universo. Não é papo de religião, sou agnóstico.

Normalmente, doenças e mudanças são precedidas por sintomas que em geral, só notamos tardiamente. Se observarmos a história ( mesmo a recente ) notaremos alguns sinais da relação entre nossas pisadas de bola individuais ou coletivas e as doenças ou catástrofes ambientais ou sociais. Nossa mente, coletivamente nos permeia com energias que desconhecemos. Talvez sejam identificadas pela ciência no futuro- Se houver um.
E o sintoma mais evidente é essa retirada sistemática das pessoas notáveis da humanidade. Procriamos entusiasticamente, feito coelhos e não nasce nenhum gênio.

Acredito que não precisamos abandonar às pressas as nossas mesquinharias do cotidiano e virarmos santos.
Atropelar esse iceberg vai exigir apenas empatizar, por enquanto.  Ou seja, priorizar e respeitar a porcaria do ser humano, o que resta do ambiente, os animais, que confiam tanto em nós, a vida alheia e principalmente educar através do exemplo, as futuras gerações. Quem sabe, desta vez, eles sobrevivam à colisão do Titanic.

Marat








sábado, 29 de junho de 2013

Massa crítica




Misantropo, eu? Tentei fazer análise mas poucos dias após minha primeira sessão, a profissional suicidou-se.
Não desisti, adotei esse blog como catarse. Pobres leitores! Felizmente, são poucos.

Falando em poucos, noto que tem gente demais no mundo, né? ( Somos 7,2 bilhões de seres detonando esse planeta! ) Quem discordar, tente dirigir no trânsito da maior metrópole da América Latina.
Certamente, já ouviram falar em Massa Crítica. Tempo de escola, lembram?

O termo Massa Crítica pode ser usado para descrever uma quantidade mínima de elementos necessária em um sistema social para se tornar auto-sustentável e desenvolver-se.
Em física, a Massa Crítica é a quantidade mínima necessária para formar e manter uma reação em cadeia (no caso, nuclear).
O termo é usado em várias áreas do conhecimento e em vários contextos, como na física, na política, teologia, sociologia, tecnologia e até no chuveiro, dependendo de quem estiver junto.

Cerca de duzentos isótopos diferentes de 35 elementos químicos já foram identificados na fissão do urânio-235. Ao atingir uma determinada massa deste elemento, denominada Massa Crítica, a reação ocorrerá em cadeia, ou seja, a fissão ocorrerá sem controle, pois os nêutrons liberados colidirão com outros núcleos, causando novas fissões. É a chamada reação em cadeia, pois o produto é o reagente para outras reações.
O resultado é o célebre "cogumelo luminoso no céu! "

Na dinâmica social, massa crítica é um número suficiente de indivíduos para iniciar uma reação em um sistema de modo que a taxa de adoção das ações se torne auto-sustentável e cresça, como um bolo!
É um aspecto da teoria da difusão de inovações, sobre a qual, escreveu  Everett Rogers em seu livro "Difusão de Inovações " (Quem já leu, levanta a mão!)
Assim, massa crítica é um conceito usado em uma variedade de contextos, incluindo a física , dinâmicas de grupo, política, opinião pública e até nas relações conjugais. (Um é pouco, dois é bom, três é demais!)

Os primeiros trabalhos desenvolvidos no estudo do comportamento coletivo situam-se no quadro da psicologia social e dedicam-se ao comportamento das multidões e grupos. Gustave Le Bon em sua obra La Psychologie des Foules (Psicologia das Massas, 1895) foi pioneiro neste domínio. ( Quem tiver muito, muuuuito saco, tente ler.)

Simplificando Le Bon, o comportamento coletivo costuma ser tendencialmente irracional, provocado por fatores geralmente repentinos, como um incêndio, uma explosão, um grito ou uma liquidação, em situações quando as referências estáveis de conduta não operam plenamente.  Quando um começa a correr, brigar ou saquear, todos fazem o mesmo, como gado, mesmo sem saber o motivo.
Ou seja, em grupo (ou manada) nosso comportamento muda. Somos civilizados até um certo número;
À partir deste número, dá-se a reação em cadeia e a situação explode.

O aspecto sociológico do comportamento coletivo portanto, vem sendo estudado por notáveis autoridades  até anteriores aos modernos desdobramentos da questão: Como as tentativas para disciplinar o trânsito, por exemplo.
Sendo o trânsito de veículos uma situação típica de comportamento coletivo, quando atinge sua massa crítica, desperta a besta interior no motorista que passa a agredir pessoas com quem, em outras circunstâncias, seria gentil ou até amigo.

Lembro-me de um sargento, durante o serviço militar que dizia, quando nos via em grupos:
-" Passou de três é motim!"
Com dois ociosos juntos, teremos uma ideia; Com três, teremos um assalto.
Seu filho de sete anos é um anjo; Junte-o com os dois priminhos e veja o que acontece. E por aí, vai.

Agora, festinhas, onde eu seguro um salgadinho gelado e um refrigerante mais gelado ainda, ouvindo um assunto estéril enquanto a anfitriã desaparece? Um estádio de futebol com centenas suando e berrando no meu ouvido para ver vinte e dois marmanjos num campo? Fila do mercado lotado onde perco horas valiosas e ainda pago por isso? Banco lotado onde eu sirvo de escudo num provável assalto? Shows ensurdecedores sem um banheiro há quilômetros? Aglomerações onde geralmente me sinto deslocado? De repente, serei eu a massa crítica, gritando: -" Chega! Pára o mundo que eu quero descer!"

Claro que grandes momentos da história humana foram forjados por multidões. As pessoas em volta eram reciprocamente conhecidas, o ideal era comum e nobre. A massa crítica foi produtiva.
Aplaudi, emocionado!

Felizmente, eu estava longe!

Marat



domingo, 16 de junho de 2013

O dilúvio fracassou: Alguns sobreviveram.



  Sempre que tiro o carro da garagem, penso nos riscos: Colisões, multas, roubos, furtos, invasão da minha serena casinha, agressões verbais, temporais, enchentes, congestionamentos, passeatas, rodízio, etc. Eu devia vender seguros! Entretanto, como raramente saio, acabo cedendo e... me aborrecendo com a espécie humana.
Basta observar a expressão dos que dirigem : Pior que a minha, assumidamente misantropo.
Mas, boas notícias:

Segundo o Centro de Informações de Objetos Próximos da Terra, com sede no Reino Unido, uma graciosa pedrinha de 1,2 km de diâmetro, carinhosamente conhecida como 2003CQ47 viaja a 32 Km/s, em direção ao ponto onde estaremos rodopiando, lá por Março de 2014. Mais do que o tamanho desta jóiazinha, é a sua velocidade, que pode tornar nosso encontro muito interessante.
Por razões que ainda não entendi, esses viajantes adoram mergulhar no mar. Talvez para se refrescar do calor gerado pela entrada em nossa atmosfera ou por nosso planeta ser mais coberto de água do que terras.

Agora, adivinhem o ponto estimado do mergulho? Bingo! O Atlântico, aproximadamente 20° latitude e 19° de longitude, a uma cuspida do trópico de Capricórnio, pertinho do nosso litoral. Santistas, vocês serão manchete! Claro, se ainda existirem jornais no nosso idioma, pois a primeira onda gerada pela veloz pedrinha deverá chegar ao nosso litoral com estimados 1,2 km de altura! Esqueci alguma coisa? Ah sim, São Bernardo, no alto da serra está a cerca de 800 metros acima do nível do mar! Sou ruim de matemática mas a ondinha que que virá pela Via Anchieta terá então uns 400 metros de altura, é isso? A visão de quem estiver por lá será a da foto acima! Legal, né? Fim dos congestionamentos no sistema Anchieta-Imigrantes!

Todavia, impulsionado pela inércia, nosso gracioso tsunami prosseguirá com sua faxina, claro. Sua crista espumante dançará sobre o antigo rio que se tornou a 23 de Maio, onde acionará os radares, será fotografado e multado por velocidade acima da permitida; Alagará a dispersa Cracolândia; Encobrirá a Paulista, com suas manifestações. Afogará poodles neuróticos, Transformará em ilha o Pico do Jaraguá, tornando-o alvo da especulação imobiliária. Seguindo o declive noroeste, engolirá o gado do Mato Grosso, para a alegria dos vegetarianos; Apagará do mapa a Bolívia, o Perú e a Colômbia, inflacionando o próspero mercado das drogas... Uma buzina ! Forte, irritante ( Detesto buzinas ) Acordo parado, cochilando na direção do meu carro, com um animal de forma humanoide, numa pickup atrás, buzinando e berrando:
-"Acorda, véio do car... o sinal tá aberto! "  Assim que ele passa acelerando, mando o cordial pirulito e toco para meu doce lar, esperando que meu vizinho tenha deixado desobstruída a entrada da garagem de casa. Lá, me esperam meu confortável egoísmo, minha covarde indiferença e minha doentia esperança de que o próximo dilúvio não deixe sobreviventes.

Marat


domingo, 9 de junho de 2013

Inteligência tem limite. Burrice não

Voltei !
Intrigados com o fato de raramente me verem fora de casa e de evitar o convívio social, ( trabalho em casa) alguns vizinhos polidamente perguntam à minha mulher se estou bem. Sempre simpática, ela responde que sim, é jeitão dele mesmo, etc.
A verdade é que me incomoda ver coisas erradas e a tônica da humanidade é o erro. Meus vizinhos, parentes, a cidade onde moro, meu estado etc, esfregam diariamente na minha cara os erros mais revoltantes.
Delicioso é quando um idiota vem me prescrever " pensamento positivo " . Certamente não vai impedir a marquise de atingir sua cabeça. Um amigo perdeu o pai assim.

Mas hoje, inexplicavelmente, estou de bom humor. Logo, vou pegar leve:
 Filhos: ( sou culpado por cinco )
Reconhece-se um casamento falido pelo número de filhos:
Até um filho, há esperanças; Dois filhos, geralmente conceberam numa tentativa de reconciliação; Três filhos, a relação conjugal já era, estão buscando compensações ou auto afirmação; Quatro filhos, hora do divórcio. Esqueçam as relações extra-conjugais, também procriam. Cinco, matem-se !

Quantidade geralmente é o oposto de qualidade. Embora a humanidade cresça demograficamente num ritmo assustador, a inteligência é um valor constante. Ou seja, a parcela legada a cada indivíduo é cada vez menor.
Curioso é que existe até um governo que remunera a plebe para ter mais filhos! Juro!
 Mas, não critico governos. Afinal, cada povo tem o que merece.

Moradia: Não vou chamar de Arquitetura para não ofender a Mãe das Artes.
A cidade onde minha limitação econômica me permite morar é o paraíso dos " puxados": aquele acréscimo ilegal que as pessoas fazem nas casas, acabando com a luz e a ventilação, sua e dos vizinhos, pondo em risco sua saúde e segurança.
Reflexo da nossa mesquinhez, as edificações são estreitas e coladas entre si, caras e construídas sem critérios. Estreitas também são as ruas, como a mentalidade da população, feliz por comprar uma tevê de prasma, quando merecia muito mais: Uma CASA, por exemplo.
Esta tevê divide com eles a atenção de suas visitas, que não sabem se focam no anfitrião ou na novela.
Juntos, partilham uma mídia alienante e patrocinada, sem conteúdo, numa tela exagerada para as geralmente tímidas dimensões do cômodo. Há séculos deixei de visitar parentes, vizinhos e afins.

Educação:  Só essa parte já justifica nossa iminente extinção- Nossa falência de valores.
A palavra " Respeito " fugiu do nosso vocabulário. E levou Direito com ela.
Experimente dirigir com o vidro aberto, segure um pouco o motorista atrás e ouça-o, em seguida:
Os mais educados o chamarão de Filho da P..., num tom absolutamente apaixonado ! Outros são mais criativos. E as filas ? Símbolo do desrespeito à pessoa, identificam a incompetência da instituição.
As destinadas aos idosos são geralmente ocupadas por jovens que não acreditam que serão idosos um dia.
Aliás o idoso, oráculo em civilizações mais sábias, é um problema na nossa. A sociedade não sabe o que fazer com eles. Salsichas talvez, já que aposentadoria é uma agressão. Esquecemos que devemos a eles tudo que temos e somos. E que perderemos em breve! Daria um livro mas paro por aqui. Até por educação.

Nada pessoal, mas basta de espécie humana . De Napoleão a Hitler tivemos os mesmos ideais e erros. Felizmente, nossa imbecilidade coletiva despertou algo além de nossa compreensão que já está providenciando a correção do seu erro: Nós, aqui. Para tanto não faltam meios. Não sou religioso mas acato a sugestão do sr. Charles Bolden, diretor da NASA : - " Rezem ! " Afirmou à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, sobre a aproximação de mais um bólido em rota de colisão com a Terra. Não será o fim do planeta mas talvez a sua cura com a erradicação desta infestação chamada Humanidade. Vamos torcer!






sexta-feira, 7 de junho de 2013

Você não está mais só. Cheguei.

Olá. Meu pseudônimo é Marat. Minha proposta: Reflexão.

Dói um pouco no início mas verá que vale a pena rever os velhos e empedernidos conceitos que regem nossa enferma sociedade.

Quem somos ?  A tese mais aceita é que somos um enxerto biológico neste bonito planeta, que estúpida e gradualmente destruímos. ( Sossegue, não é mais um falando de ecologia )
 A tese mais aceita é que um grupo alienígena parou por aqui para uma atividade que exigia mão de obra local. ( O problema da mão de obra é anterior à humanidade.) Aí, nos viram. Animais simiescos, adaptados ao meio, fortes e irracionais. Foi simples: Básica inserção do fantástico DNA deles e os operários estavam prontos. Trabalho rola, o prazo ( sempre os prazos...) aperta, a Matriz chama os ETs e pede resultados. Bem, o jeito é carregar os veículos e partir. E os operários? Que fazer com eles ? Já se comunicam com sons articulados, conhecem o fogo e até brilha uma luzinha de inteligência em seus olhos. " Bem, não há mais tempo para nada, vamos deixá-los como estão. Se der, voltaremos outra hora para buscar os equipamentos."   E zarparam. Para um lugar no espaço-tempo, como nas rimas do Lulu Santos, de " Gente fina, elegante e sincera ". Quando foi?  Bem, dessa eu gosto:  Comparem a idade do planeta a um ano: Isso teria ocorrido nos últimos quinze minutos do dia 31 de Dezembro. Somos novos por aqui.

Neste curtíssimo espaço de tempo rola nossa história, com seus impérios, suas guerras, religiões, políticas, arte, culturas, doutrinas e uma incrível sucessão de erros que decepcionariam os nossos colonizadores.
Depois de condenar mártires e libertar criminosos, depois de atropelar o Direito em prol de postulados hipócritas e obsoletos, montados numa indomável tecnologia que tenta subverter os valores humanos, sobrevivemos milagrosamente até o limiar do terceiro milênio. Nós, os símios enxertados.

Tentamos nos organizar em sociedade. Em tese, ótima idéia. Mas não deu certo. A sociedade que criamos para melhorar nossa vida, esqueceu seu propósito primordial: Nós. Tornou-se um instrumento de distribuição amoral de poder. Pior, corrompeu os nobres símios humanizados, em troca de panem et circenses, que aceitamos com ingênua alegria. Ah, que bom. Enfim, bem aventurados os Idiotas, somos felizes, né?

Algumas luzes se fizeram sobre a tal da Humanidade, provavelmente, por intervenção dos nossos colonizadores. Uma das mais brilhantes destas luzes, um meigo hebreu foi executado por um conluio entre um político e um religioso.

Sempre distraído, esbarrei casualmente num Guru que , após uma reverência a guisa de desculpas, me falou da tese do oposto. Lembro alguns pontos:
" A melhor coisa do Sol é a sombra."
" A única certeza da vida é a morte "
" O mais caro num casamento é o divórcio"
" As sombras nos indicam a origem da luz "
E por aí, vai...  Claro, diante dessa criatura inusitada, não resisti e fiz as clássicas perguntas:
Qual a opinião dele sobre:  Aborto,  união estável entre pessoas do mesmo sexo, eutanásia, suicídio, pena capital, empatia, pátria, família, religiões, preconceito, estado, Direito, hipocrisia... Aí, ele riu ! Uma gostosa gargalhada.  E disse:  - " Marat, toda pergunta encerra em sí a resposta. Numa das palavras que você usou na sua frase está a resposta a todas essas questões ! "  Sorriu, despediu-se e partiu sereno, imerso em seus pensamentos.

Ao iniciar esse blog, refletindo sobre as injustiças sociais que mostram a humanidade como uma triste coisa,  faço aos que pacientemente leram até aqui, as mesmas perguntas que fiz ao Guru. Respondam, por favor. Adoraria ouvir suas opiniões.
Até a próxima edição.